Marluce 1 de abril de 2024

Quais são as fases do processo de compostagem?

O processo de compostagem é importante para o reaproveitamento de resíduos orgânicos e resulta em um composto final rico em matéria orgânica humificada que pode ser utilizado como fertilizante para o plantio de diversas espécies vegetais (DAL BOSCO et al. 2017). Inclusive, temos um conteúdo bem completo sobre esse assunto aqui no blog. Este texto de hoje é para apresentar as fases da compostagem.

Desde o início do processo até o composto maduro, o que acontece? Quais microrganismos estão envolvidos? Quais são as fases e quais as características de cada uma delas? É justamente sobre isso que vamos falar. Por isso, continue sua leitura e fique bem informado.

Quem são os organismos envolvidos no processo de compostagem?

A compostagem é um processo biológico aeróbio e controlado onde, por meio da ação de microrganismos, substratos orgânicos são decompostos. Ao final, chega-se a um produto estável, rico em matéria orgânica e humificado (KIEHL, 1985; KIEHL, 2004; REIS, 2005 apud DAL BOSCO et al. 2017).

Dentre estes microrganismos estão presentes bactérias, fungos e actinomicetos. Além deles, outros organismos como nematoides, vermes, insetos e larvas também podem participar do processo, a depender das características do material compostado. O processo de compostagem promove ambiente favorável para que esses organismos possam degradar e estabilizar a matéria orgânica (KIEHL, 2004 apud DAL BOSCO et al. 2017).

Quais as funções dos organismos na compostagem?

A seguir veremos algumas das principais funções de alguns destes grupos de organismos vivos no processo de compostagem:

Bactérias – nas leiras de compostagem, as bactérias têm função de decompor compostos de fácil decomposição, como açúcares, proteínas e amido. Elas possuem grande atuação na fase termofílica do processo de compostagem. Elas são responsáveis pela fixação de nitrogênio e disponibilização de nutrientes. Produzem uma grande diversidade de enzimas e possuem rápida reprodução (DAL BOSCO et al., 2017).

Fungos – os fungos também podem estar presentes nas leiras de compostagem. E, apesar de menos numerosos que as bactérias, possuem grande biomassa. Os fungos são fundamentais no processo porque atuam em compostos mais complexos como, por exemplo, a celulose. E, ao contrário das bactérias, são mais favorecidos em ambientes mais ácidos.

Actinomicetos – este grupo de bactérias filamentosas, que tem aspecto semelhante a fungos, são importantes para decomposição da celulose, hemicelulose, proteínas, podendo atacar madeira, cascas e papel. Estes microrganismos são responsáveis pelo “odor de terra” quando se aproxima a maturação do composto (DAL BOSCO et al., 2017).

Durante todas as fases da compostagem, há variação e sucessão dos grupos de microrganismos presentes. Pois a predominância deles variam conforme as características do composto, como temperatura, pH, relação C/N, entre outros.

Mas quais são essas fases da compostagem?

O processo de compostagem passa por sucessivas fases desde a montagem das leiras até atingir o composto final, pronto para ir para o campo. Na imagem 1, pode-se observar o gráfico das fases da compostagem relacionando tempo e temperatura.

Fonte: Adaptado de Kiehl (1985).

Fase mesofílica de aquecimento

A primeira fase, conhecida como mesofílica de aquecimento, tem duração de poucos dias e conta com a predominância de bactérias que começam a se multiplicar no resíduo a ser compostado. Estas bactérias começam a degradar primeiro os resíduos menos recalcitrantes, ou seja, os compostos mais facilmente decomponíveis. A temperatura nesta fase da decomposição é de 30 a 45° C.

Com o aumento da temperatura, as bactérias mesófilas (que sobrevivem em temperaturas mais baixas) perdem competitividade, dando espaço para proliferação de organismos termofílicos (VALENTE et al., 2009 apud DAL BOSCO et al., 2017).

Fase termofílica

Então começa a fase termofílica, quando a atividade metabólica cresce consideravelmente e, consequentemente, a temperatura também, podendo chegar até a 75°C. A duração desta fase varia de acordo com o tipo de material que está sendo compostado.

Com o rápido consumo dos compostos orgânicos facilmente decomponíveis, há uma alta liberação de ácidos orgânicos pelas bactérias, levando a uma redução do pH.

Com a redução do pH há uma sucessão ecológica. O pH fica ácido e fica “pouco confortável” para atuação das bactérias, havendo uma sucessão para maior atuação dos fungos que atuam em faixas de pH mais baixos.

Fase mesofílica de resfriamento

Depois chega-se à etapa mesofílica de resfriamento. Nesta fase, a atividade metabólica diminui e a temperatura começa a cair, fazendo com que os organismos mesofílicos voltem a se instalar. Neste momento, inicia-se o processo de maturação da matéria orgânica e humificação (DAL BOSCO et al., 2017).

Fase de resfriamento e maturação

Enfim, chega-se à última etapa que é a etapa de resfriamento e maturação. Ela ocorre na temperatura ambiente. E nela, os organismos que prosperam são os mesofílicos entre eles os fungos e os actinomicetos. Nesta fase, os resíduos que vão estar ainda para serem decompostos vão ser recalcitrantes. Esses organismos continuam decompondo a celulose e a lignina chegando à etapa de mineralização que é a etapa final da decomposição. Neste momento, finalmente, o composto já apresenta propriedades físicas, químicas e biológicas desejáveis à aplicação no solo (KIEHL, 2004; MASSUKADO, 2008; INACIO et al., 2009 apud DAL BOSCO et al., 2017).

E quais microrganismos predominam em cada fase?

Para resumir as fases e quais os microrganismos predominantes em cada uma delas, trouxemos a tabela 1 baseada nas informações de Kiehl (1985 apud DAL BOSCO et al., 2017).

Tabela 1: Microrganismos predominantes em cada uma das fases da compostagem.

Fase da compostagemMicrorganismos predominantes  
Mesofílica de aquecimentoBactérias e fungos mesófilos produtores de ácidos
TermofílicaBactérias, fungos e actinomicetos termofílicos
Mesofílica de resfriamentoRedução da população de bactérias e desenvolvimento de fungos
MaturaçãoFungos e actinomicetos
Elaborado conforme informações KIEHL (1985)

Sem dúvida, em cada uma das etapas, os microrganismos são fundamentais para que o processo de decomposição aconteça de forma satisfatória, aproveitando ao máximos as propriedades dos materiais compostados. Afinal, o intuito é chegar a um composto orgânico rico, que seja levado de volta ao sistema produtivo da forma mais sustentável e benéfica possível.

Referências

DAL BOSCO, T.C.; GONÇALVES, F.; ANDRADE, F.C.; TAIATELE JUNIOR, I.; SILVA, J.S.; SBIZZARO, M. Contextualização teórica: compostagem e vermicompostagem. p. 19-44. 2017. Disponível em: https://openaccess.blucher.com.br/article-details/contextualizacao-teorica-20319 Acesso em: 24 de março de 2024.

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