Marluce 28 de outubro de 2023

Como escolher um bom enraizador?

Nós sabemos que o enraizador é um importante insumo utilizado no tratamento de sementes ou via sulco de semeadura (por meio do jato dirigido) para potencializar o arranque inicial das plantas. Mas como escolher um bom enraizador?

Você já analisou se, de fato, o produto que você tem utilizado na fazenda tem contribuído com o desenvolvimento das suas plantas? Ele possui os nutrientes necessários para essa fase inicial? E no que diz respeito ao índice salino deste enraizador? Você conhece o comportamento deste produto quando o assunto é salinidade? E quanto ao pH? Como ele interfere no pH da rizosfera? Tudo isso e muito mais precisa ser observado na escolha do enraizador. E é exatamente sobre isso que falaremos no conteúdo de hoje. Continue sua leitura e fique bem informado.

Mas, para começar, o que são enraizadores?

Enraizadores são produtos, sintéticos ou naturais, que possuem a função de estimular o crescimento de raízes nas plantas. No caso de culturas como a soja, por exemplo, é muito comum que este enraizador seja colocado no tratamento de sementes (TS) (junto aos demais produtos) ou que ele seja aplicado via sulco de semeadura, junto com a semente, por meio de equipamento acoplado à plantadeira (jato dirigido, exemplo mícron).

Geralmente, estes produtos possuem em sua composição micronutrientes e hormônios importantes para o desenvolvimento radicular. E no conteúdo de hoje, trazemos informações importantes que vão te ajudar na hora de escolher e diferenciar os enraizadores.

Enraizador e a salinidade

Um ponto muito importante e que muitas vezes é negligenciado por produtores e profissionais é o índice salino do produto. Afinal, “o estresse salino, prejudica as plantas pela diminuição da disponibilidade hídrica, causa toxidez iônica pelo acúmulo de íons nas células (como Na e Cl), desequilíbrio nutricional ou inativação fisiológica de íons essenciais” (Taiz e Zeiger, 2009 apud Barbieri et al., 2014).

Trabalhos comprovam que em soja, à medida que os níveis de salinidade são elevados, observa-se menor germinação e desenvolvimento de plântulas (Carvalho et al., 2012).

Portanto, caso o índice salino do enraizador seja muito alto, pode haver prejuízos para a semente porque haverá um desequilíbrio osmótico entre semente e ambiente. Esse estresse interfere no desempenho inicial e no estabelecimento da cultura. O alto teor de sais pode inibir a germinação devido a diminuição do potencial osmótico, ocasionando prejuízos as demais fases do processo (Lima et al., 2005). Na prática é possível observar este comportamento em enraizadores com alto teor de níquel e cobalto.

Em trabalho realizado por Ramos, Santos e Rubial (2023), à medida que o potencial osmótico do meio se tornou mais negativo, verificou-se uma redução drástica no índice de emergência, área foliar e atraso no tempo médio de emergência da soja. A altura de plântula também foi afetada pelos níveis de salinidade, podendo observar que conforme as concentrações dos sais na solução aumentaram, houve uma drástica queda na altura das plântulas de soja.

Enraizador e o pH

Outro fator que precisa ser observado é o comportamento do enraizador no que diz respeito ao pH. O produto é ácido e abaixa muito o pH? Isso pode ser um problema. Principalmente quando entendemos que a acidez é um dos fatores que afeta negativamente a eficiência da Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN).

A acidez é um dos fatores que podem inibir o crescimento populacional bacteriano, diminuir a colonização da rizosfera e inibir a formação de nódulos eficientes (Ferreira et al., 2012).

O pH ideal do solo para o crescimento dos rizóbios varia de 6,0 a 7,0, sendo a nodulação comprometida em solos com pH abaixo de 5,5 (Bordeleau; Prévost, 1994; Graham et al., 1994 apud Coelho et al., 2021). Portanto, se a semente for tratada com um produto que abaixa muito o pH ou ainda se esse produto for aplicado via sulco de semeadura, a nodulação pode ser comprometida porque a região próxima à semente estará mais ácida. E o pH abaixo de 5,5 limita a eficiência, a multiplicação e a sobrevivência das bactérias fixadoras de nitrogênio.

Co, Mo e Ni

A maioria dos enraizadores do mercado possuem estes três elementos em sua composição: cobalto, níquel e molibdênio. E isso não acontece por acaso. Afinal, eles são elementos indispensáveis para o processo da Fixação Biológica de Nitrogênio. Então, uma vez feita a inoculação, é importante que também que sejam fornecidos estes três elementos para que possam ativar as enzimas que participam do processo de fixação e garantem a eficiência da transformação do Nitrogênio atmosférico (N2) em Nitrogênio assimilável (NH4+) pela planta.

Portanto, assegure-se de que seu enraizador possui esses três elementos em sua composição. Sua FBN será muita mais efetiva com essa nutrição somada a uma inoculação bem feita.

Zinco no enraizador

Muitos trabalhos comprovam o papel do zinco como precursor da auxina, que é um hormônio de alongamento celular. Portanto, utilizar um produto que possua zinco em sua composição contribui muito com o desenvolvimento radicular e parte aérea das plantas desde o início do ciclo.

Equilíbrio nutricional

Além de todos estes aspectos, existem um que ainda interfere diretamente no arranque eficiente da sua lavoura: o equilíbrio nutricional! Este cuidado é válido desde a emergência. Afinal, o excesso ou a falta de um nutriente pode limitar a absorção do outro e, consequentemente, limitar o potencial produtivo daquela cultura.

Resultados práticos

Na imagem a seguir, apresentamos o resultado visual de um trabalho desenvolvido pelo pesquisador Clayton Ribeiro comparando diversos enraizadores do mercado. Na imagem podemos observar o comparativo entre os tratamentos com os enraizadores e o tratamento controle (sem enraizador).

Trabalho realizado com 7 enraizadores na cultura da soja

O nosso H2 Raiz é o tratamento aqui intitulado como “Tratamento G”. Ele apresentou um ótimo resultado quando comparado ao controle e demais enraizadores. E o mais interessante destas imagens é o seguinte: observe que tivemos sementes que não evoluíram no processo de germinação quando tratadas com alguns dos produtos testados. E quando comparada ao controle, teve desempenho bem inferior. Isso só comprova o que comentamos anteriormente sobre fatores que podem prejudicar a germinação a depender de inúmeras características do produto. Neste caso, por exemplo, o enraizador do tratamento C e D apresentaram alto índice salino, se comparados ao H2 Raiz, e comprometeram o desenvolvimento do processo de germinação.

Portanto, lembre-se: enraizador não é tudo igual, é preciso estar extremamente atento as características dos produtos que você está utilizando em sua lavoura!

Texto: Marluce Corrêa Ribeiro – Jornalista e Engª Agrônoma

Referências

BARBIERI, A.P.P.; HUTH, C.; ZEN, H.D.; BECHE, M.; HENNING, L.M.M.; LOPES, S.J. Tratamento de sementes de milho sobre o desempenho de plântulas em condições de estresse salino. Revista de Ciências Agrárias v. 57, n. 3, jul./set. 2014. Disponível em: http://btcc.ufra.edu.br/index.php/ajaes/article/view/1381/508. Acesso em: 25 de outubro de 2023.

CARVALHO, T. C.; SILVA, S. S.; SILVA, R. C.; PANOBIANCO, M.  Germinação e desenvolvimento inicial de plântulas de soja convencional e sua derivada transgênica RR em condições de estresse salino. Ciência Rural, v. 42, n. 8, p. 1366-1371, 2012. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-847820120008000064

COELHO, L.G.F.; BOMFIM, C.A.; MENDES, I.C.; DO VALE, M.M.H; REIS JÚNIOR, F.B. A inoculação do feijoeiro no Brasil: Alternativas para aumentar a produtividade utilizando microrganismos promotores do crescimento vegetal. Documento 384. Embrapa Cerrados. Planaltina-DF, 2021, p. 47

FERREIRA, E. P. B.; MERCANTE, F. M.; HUNGRIA, M.; MENDES, I. C.; ARAÚJO, J. L. S.; JÚNIOR, P. I. F.; ARAÚJO, A. P. Contribuições para melhoria da eficiência da fixação biológica de nitrogênio no feijoeiro comum no Brasil. In: ARAÚJO, A. P.; ALVES, B. J. R. (ed.). Tópicos em Ciências do Solo. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2013. Cap. 7.  p. 380.

LIMA, M.G.S.; LOPES, N.F.; MORAES, D.M.; ABREU, C.M. Qualidade fisiológica de sementes de arroz submetidas a estresse salino. Revista Brasileira de Sementes, v.27, n.1, p.54-61, 2005.

RAMOS, T. O.; SANTOS, R. F..; UBIAL, R. N.. INTERAÇÃO ENTRE SALINIDADE E BIOFERTILIZANTE NA GERMINAÇÃO DA SOJA. International Journal of Environmental Resilience Research and Science, [S. l.], v. 5, n. 1, p. 1–8, 2023. DOI: 10.48075/ijerrs.v5i1.30580. Disponível em: https://e-revista.unioeste.br/index.php/ijerrs/article/view/30580. Acesso em: 25 out. 2023.

Receba conteúdos exclusivos no seu e-mail

    Cotação