Você já deve ter visto muitos produtores adicionando manganês (Mn) na aplicação de herbicida pós-emergente, muitas vezes sem nem saber o motivo, não é mesmo? Já deve ter visto também folhas amareladas na sua área de soja RR após aplicação de glifosato. Afinal, são sintomas muito comuns. Esse sintoma é conhecido como yellow flashing. Mas você sabe por que ele acontece? Será que tem alguma relação com o Mn? Ou seria uma reação da planta à molécula do glifosato? Será que essa aplicação de Mn junto ao glifosato minimiza esse sintoma? No artigo de hoje explicaremos o que acontece na planta de soja RR após a aplicação do glifosato. E ao final dessa leitura você saberá explicar porque você utiliza ou recomenda Mn em conjunto com o glifosato. Então, continue sua leitura e veja o que a pesquisa tem descoberto sobre a relação entre Mn e glifosato.
Antes de falar sobre o Mn e o glifosato, precisamos entender o que é o chamado efeito yellow flashing, que é o nome dado àquele sintoma de amarelecimento das folhas da soja após a aplicação do glifosato. Por muito tempo falou-se que aquele sintoma era devido à complexação do glifosato e do Mn dentro da célula da planta. Porém, a pesquisa tem mostrado que não é bem assim. E é sobre isso que vamos falar.
Então vamos lá. De forma bem didática, quando o glifosato é absorvido pelas plantas, parte será exsudada pelas raízes e outra parte será degradada no tecido foliar. A partir da degradação da molécula do glifosato dentro da planta, o primeiro e principal metabólito formado é o ácido aminometilfosfônico, conhecido como AMPA. E é justamente esta molécula que causa o sintoma de amarelecimento conhecido como yellow flashing.
Essa molécula se mostrou capaz de reduzir o conteúdo de clorofila nas folhas. Ou seja, esse sintoma, nada mais é, segundo vários estudos, uma resposta das cultivares RR à toxicidade ao AMPA. Portanto, vários resultados de trabalhos sugerem que o dano à soja RR causado pelo glifosato é devido ao AMPA, formado a partir da degradação do glifosato.
Embora o AMPA seja menos fitotóxico que o glifosato, seu modo de ação é diferente do glifosato e ainda é desconhecido.
Em média, 22 dias após a aplicação do glifosato, os sintomas de yellow flashing são atenuados, coincidindo com a redução da concentração do AMPA nas folhas, uma vez que este foi metabolizado pela planta.
Nesse momento você pode estar se perguntando: mas então aquele sintoma de amarelecimento que visualizamos após aplicação de glifosato não é deficiência de Mn? Então por que devemos fazer a aplicação de Mn junto com o glifosato?
Então, aqui já podemos apontar algumas respostas:
1 – A pesquisa tem mostrado que o sintoma de amarelecimento conhecido como yellow flashing não ocorre pela complexação do Mn com o glifosato dentro da planta como era a hipótese anterior;
2 – O yellow flashing ocorre então pela presença de AMPA que reduz o conteúdo de clorofila nas folhas;
3 – Mas há outro motivo pelo qual o glifosato pode sim induzir a deficiência de Mn na soja RR. E não tem nada a ver com a complexação intracelular. E explicaremos no próximo tópico;
4 – Portanto, a aplicação do Mn junto ao glifosato vem como alternativa para aproveitar o operacional da aplicação do pós-emergente e já fornecer à planta a nutrição complementar que ela precisa para um bom desenvolvimento.
Lembra que comentamos anteriormente que parte do glifosato é exsudada pelas raízes da planta? Pois bem. Estudos comprovam que esse conteúdo exsudado pode gerar alterações na rizosfera. E, além disso, comprometem a absorção de íons metálicos, entre eles o Mn.
Estudos realizados por Huber (2007) comprovaram que a deficiência nutricional de Mn na soja ocorre devido a efeitos secundários indesejáveis em certos microrganismos da rizosfera. Em um dos experimentos, observou-se que houve redução na população de organismos redutores e aumento na população de organismos oxidantes de Mn na rizosfera da planta. Este aumento da população de organismos oxidantes favoreceu a transformação do Mn2+ (forma ativa, absorvível pelas plantas) em Mn4+ (forma inativa, não absorvível pelas plantas) causando, portanto, deficiência de Mn nas plantas.
Outro aspecto apontado por um trabalho desenvolvido por Eker et a. (2006) com girassol foi que o princípio da reação entre glifosato e Mn formando complexo insolúveis poderia indicar a formação desses complexos também na rizosfera entre os exsudatos radiculares da planta tratada com glifosato e o Mn do solo. Isso tornaria o Mn indisponível para a absorção vegetal. A adubação foliar complementar seria, portanto, uma excelente estratégia para minimizar os efeitos da deficiência que pode ser causada por essa indisponibilidade momentânea do Mn.
Diante de tudo que apresentamos anteriormente, vimos que o AMPA gera o sintoma de amarelecimento das folhas pós-aplicação do glifosato. E que, de forma simultânea a essa resposta, pode sim haver uma deficiência de Mn ocasionada por uma redução na absorção do Mn pelas raízes.
Portanto, entende-se que a aplicação do Mn via foliar pode sim ser uma boa estratégia para reduzir os impactos desta aplicação de glifosato nas plantas não-alvo e ainda fornecer nutrientes que contribuem para o pleno desenvolvimento da planta.
E por que esse Mn é importante para as plantas? Quais suas principais funções? Sabemos que o Mn é um dos elementos considerados essenciais na nutrição de plantas. Portanto, ele atende aos critérios de essencialidade. Entre suas principais funções, podemos destacar: ativação de enzimas; participação na fotólise da água e na formação, multiplicação e funcionamento dos cloroplastos. Atua também no metabolismo do nitrogênio e como precursor de aminoácidos e hormônios.
Por isso a adubação complementar é tão importante também para o nutriente Mn.
Esta aplicação poderia perfeitamente ser realizada após a aplicação do pós-emergente. Isso poderia reduzir possíveis problemas com incompatibilidade de misturas entre o glifosato e o Mn no tanque de pulverização. Entretanto, sabemos que operacionalmente isso pode ser inviável ao produtor e acabar aumentando o custo operacional. Por isso, muitos produtores acabam incluindo o manganês na aplicação do pós-emergente.
E é neste momento que é preciso atenção às misturas. Afinal, a incompatibilidade na calda compromete tanto a eficiência do glifosato quanto a absorção do Mn aplicado.
A seguir daremos alguns exemplos de fontes que, segundo os estudos, se comportam melhor nessa situação.
Quando pensamos em misturas de tanque, um fator precisa estar muito claro: precisamos manter a eficiência da aplicação. Portanto, é preciso estar atento aos produtos e fontes que serão utilizadas na preparação da calda para minimizar as perdas.
Quando pensamos na interação entre glifosato e manganês dentro do tanque, é fato que o glifosato é capaz de complexar o Mn2+ em solução aquosa. Portanto, adotar fontes quelatizadas e complexadas é uma alternativa importante para a mistura destas moléculas.
A função básica da quelatização é proteger os nutrientes catiônicos como o Mn2+ para que estes fiquem menos sujeitos às reações de precipitação ou de insolubilização e mantenham-se disponíveis às plantas. Os nutrientes quelatizados formam complexos solúveis, sendo que o metal e o agente quelatizante entram juntos pelas folhas das plantas sendo transportados até os demais órgãos.
Estudos com diferentes fontes de manganês em interação com o glifosato mostraram resultados interessantes que comprovam os benefícios de fontes quelatizadas.
No estudo, a mistura de sulfato de manganês (MnSO4) + glifosato gerou perdas de até 30% do Mn e do glifosato no tanque de pulverização devido a formação de precipitados.
No tratamento com fosfito de Mn (MnHPO3) + glifosato, houve uma redução significativa da eficiência no fornecimento de Mn via foliar para a soja.
Já na Mn-EDTA (Mn quelatizado com ácido etilenodiaminotetracético) + glifosato, não houve reação e a fonte de manganês não teve sua eficiência afetada pela mistura com glifosato. O Mn quelatizado não reage, pois o EDTA tem força de ligação maior que a molécula de glifosato.
Estes e outros trabalhos comprovam que o uso de fontes quelatizadas é essencial para reduzir as perdas por reações dentro do tanque de pulverização quando a aplicação tiver manganês e glifosato juntos.
Cabe ressaltar também que do ponto de vista nutricional, o Mn feito apenas na pós-emergência não é suficiente para nutrir as plantas quando se pensa em altas produtividades. Em média áreas que colhem mais de 80 sacas/ha de soja recebem durante o ciclo 400 g/ha, parcelado em 3 aplicações. E nas aplicações após o glifosato recomendam-se fontes solúveis como sulfato e nitrato.
Além disso, outros fatores precisam ser observados além das fontes. O pH é um deles. Mas aí já é assunto para outro artigo.
A adubação complementar com Mn via foliar é importante para atingir altos rendimentos. E a sua aplicação em conjunto com o glifosato é interessante, pois reduz uma operação mecanizada. A dose e a recomendação devem ser analisadas caso a caso, para cada cultura. E o parcelamento é sempre desejável durante todo o ciclo para melhor aproveitamento pela planta. A fonte mais eficiente para as misturas com glifosato segundo os estudos tem sido o Mn-EDTA, pois não reage no tanque de pulverização e mantém sua eficiência. Lembre-se sempre de adquirir produtos de empresas idôneas. E fazer testes de mistura antes de realizar a mistura no tanque para garantir a compatibilidade entre os produtos.
Texto: Marluce Corrêa Ribeiro