Marluce 1 de dezembro de 2023

Por que aplicar manganês no pós-emergente?

Você já deve ter visto muitos produtores adicionando manganês (Mn) na aplicação de herbicida pós-emergente, muitas vezes sem nem saber o motivo, não é mesmo? Já deve ter visto também folhas amareladas na sua área de soja RR após aplicação de glifosato. Afinal, são sintomas muito comuns. Esse sintoma é conhecido como yellow flashing. Mas você sabe por que ele acontece? Será que tem alguma relação com o Mn? Ou seria uma reação da planta à molécula do glifosato? Será que essa aplicação de Mn junto ao glifosato minimiza esse sintoma? No artigo de hoje explicaremos o que acontece na planta de soja RR após a aplicação do glifosato. E ao final dessa leitura você saberá explicar porque você utiliza ou recomenda Mn em conjunto com o glifosato. Então, continue sua leitura e veja o que a pesquisa tem descoberto sobre a relação entre Mn e glifosato.

O que é o chamado efeito yellow flashing?

Antes de falar sobre o Mn e o glifosato, precisamos entender o que é o chamado efeito yellow flashing, que é o nome dado àquele sintoma de amarelecimento das folhas da soja após a aplicação do glifosato. Por muito tempo falou-se que aquele sintoma era devido à complexação do glifosato e do Mn dentro da célula da planta. Porém, a pesquisa tem mostrado que não é bem assim. E é sobre isso que vamos falar.

Então vamos lá. De forma bem didática, quando o glifosato é absorvido pelas plantas, parte será exsudada pelas raízes e outra parte será degradada no tecido foliar. A partir da degradação da molécula do glifosato dentro da planta, o primeiro e principal metabólito formado é o ácido aminometilfosfônico, conhecido como AMPA. E é justamente esta molécula que causa o sintoma de amarelecimento conhecido como yellow flashing.

Essa molécula se mostrou capaz de reduzir o conteúdo de clorofila nas folhas. Ou seja, esse sintoma, nada mais é, segundo vários estudos, uma resposta das cultivares RR à toxicidade ao AMPA. Portanto, vários resultados de trabalhos sugerem que o dano à soja RR causado pelo glifosato é devido ao AMPA, formado a partir da degradação do glifosato.

Embora o AMPA seja menos fitotóxico que o glifosato, seu modo de ação é diferente do glifosato e ainda é desconhecido.

Em média, 22 dias após a aplicação do glifosato, os sintomas de yellow flashing são atenuados, coincidindo com a redução da concentração do AMPA nas folhas, uma vez que este foi metabolizado pela planta.

Nesse momento você pode estar se perguntando: mas então aquele sintoma de amarelecimento que visualizamos após aplicação de glifosato não é deficiência de Mn? Então por que devemos fazer a aplicação de Mn junto com o glifosato?

Então, aqui já podemos apontar algumas respostas:

1 – A pesquisa tem mostrado que o sintoma de amarelecimento conhecido como yellow flashing não ocorre pela complexação do Mn com o glifosato dentro da planta como era a hipótese anterior;

2 – O yellow flashing ocorre então pela presença de AMPA que reduz o conteúdo de clorofila nas folhas;

3 – Mas há outro motivo pelo qual o glifosato pode sim induzir a deficiência de Mn na soja RR. E não tem nada a ver com a complexação intracelular. E explicaremos no próximo tópico;

4 – Portanto, a aplicação do Mn junto ao glifosato vem como alternativa para aproveitar o operacional da aplicação do pós-emergente e já fornecer à planta a nutrição complementar que ela precisa para um bom desenvolvimento.

Como o glifosato pode induzir a deficiência de manganês na soja?

Lembra que comentamos anteriormente que parte do glifosato é exsudada pelas raízes da planta? Pois bem. Estudos comprovam que esse conteúdo exsudado pode gerar alterações na rizosfera. E, além disso, comprometem a absorção de íons metálicos, entre eles o Mn.

Estudos realizados por Huber (2007) comprovaram que a deficiência nutricional de Mn na soja ocorre devido a efeitos secundários indesejáveis em certos microrganismos da rizosfera. Em um dos experimentos, observou-se que houve redução na população de organismos redutores e aumento na população de organismos oxidantes de Mn na rizosfera da planta. Este aumento da população de organismos oxidantes favoreceu a transformação do Mn2+ (forma ativa, absorvível pelas plantas) em Mn4+ (forma inativa, não absorvível pelas plantas) causando, portanto, deficiência de Mn nas plantas.

Outro aspecto apontado por um trabalho desenvolvido por Eker et a. (2006) com girassol foi que o princípio da reação entre glifosato e Mn formando complexo insolúveis poderia indicar a formação desses complexos também na rizosfera entre os exsudatos radiculares da planta tratada com glifosato e o Mn do solo. Isso tornaria o Mn indisponível para a absorção vegetal. A adubação foliar complementar seria, portanto, uma excelente estratégia para minimizar os efeitos da deficiência que pode ser causada por essa indisponibilidade momentânea do Mn.

Aplicação do manganês junto com o glifosato é uma opção?

Diante de tudo que apresentamos anteriormente, vimos que o AMPA gera o sintoma de amarelecimento das folhas pós-aplicação do glifosato. E que, de forma simultânea a essa resposta, pode sim haver uma deficiência de Mn ocasionada por uma redução na absorção do Mn pelas raízes.

Portanto, entende-se que a aplicação do Mn via foliar pode sim ser uma boa estratégia para reduzir os impactos desta aplicação de glifosato nas plantas não-alvo e ainda fornecer nutrientes que contribuem para o pleno desenvolvimento da planta.

E por que esse Mn é importante para as plantas? Quais suas principais funções? Sabemos que o Mn é um dos elementos considerados essenciais na nutrição de plantas. Portanto, ele atende aos critérios de essencialidade. Entre suas principais funções, podemos destacar: ativação de enzimas; participação na fotólise da água e na formação, multiplicação e funcionamento dos cloroplastos. Atua também no metabolismo do nitrogênio e como precursor de aminoácidos e hormônios.

Por isso a adubação complementar é tão importante também para o nutriente Mn.

Esta aplicação poderia perfeitamente ser realizada após a aplicação do pós-emergente. Isso poderia reduzir possíveis problemas com incompatibilidade de misturas entre o glifosato e o Mn no tanque de pulverização. Entretanto, sabemos que operacionalmente isso pode ser inviável ao produtor e acabar aumentando o custo operacional. Por isso, muitos produtores acabam incluindo o manganês na aplicação do pós-emergente.

E é neste momento que é preciso atenção às misturas. Afinal, a incompatibilidade na calda compromete tanto a eficiência do glifosato quanto a absorção do Mn aplicado.

A seguir daremos alguns exemplos de fontes que, segundo os estudos, se comportam melhor nessa situação.

Cuidados nas misturas de tanque: a fonte de manganês importa?

Quando pensamos em misturas de tanque, um fator precisa estar muito claro: precisamos manter a eficiência da aplicação. Portanto, é preciso estar atento aos produtos e fontes que serão utilizadas na preparação da calda para minimizar as perdas.

Quando pensamos na interação entre glifosato e manganês dentro do tanque, é fato que o glifosato é capaz de complexar o Mn2+ em solução aquosa. Portanto, adotar fontes quelatizadas e complexadas é uma alternativa importante para a mistura destas moléculas.

A função básica da quelatização é proteger os nutrientes catiônicos como o Mn2+ para que estes fiquem menos sujeitos às reações de precipitação ou de insolubilização e mantenham-se disponíveis às plantas. Os nutrientes quelatizados formam complexos solúveis, sendo que o metal e o agente quelatizante entram juntos pelas folhas das plantas sendo transportados até os demais órgãos.

Estudos com diferentes fontes de manganês em interação com o glifosato mostraram resultados interessantes que comprovam os benefícios de fontes quelatizadas.

No estudo, a mistura de sulfato de manganês (MnSO4) + glifosato gerou perdas de até 30% do Mn e do glifosato no tanque de pulverização devido a formação de precipitados.

No tratamento com fosfito de Mn (MnHPO3) + glifosato, houve uma redução significativa da eficiência no fornecimento de Mn via foliar para a soja.

Já na Mn-EDTA (Mn quelatizado com ácido etilenodiaminotetracético) + glifosato, não houve reação e a fonte de manganês não teve sua eficiência afetada pela mistura com glifosato. O Mn quelatizado não reage, pois o EDTA tem força de ligação maior que a molécula de glifosato.

Estes e outros trabalhos comprovam que o uso de fontes quelatizadas é essencial para reduzir as perdas por reações dentro do tanque de pulverização quando a aplicação tiver manganês e glifosato juntos.

Cabe ressaltar também que do ponto de vista nutricional, o Mn feito apenas na pós-emergência não é suficiente para nutrir as plantas quando se pensa em altas produtividades. Em média áreas que colhem mais de 80 sacas/ha de soja recebem durante o ciclo 400 g/ha, parcelado em 3 aplicações. E nas aplicações após o glifosato recomendam-se fontes solúveis como sulfato e nitrato.

Além disso, outros fatores precisam ser observados além das fontes. O pH é um deles. Mas aí já é assunto para outro artigo.

Conclusão

A adubação complementar com Mn via foliar é importante para atingir altos rendimentos. E a sua aplicação em conjunto com o glifosato é interessante, pois reduz uma operação mecanizada. A dose e a recomendação devem ser analisadas caso a caso, para cada cultura. E o parcelamento é sempre desejável durante todo o ciclo para melhor aproveitamento pela planta. A fonte mais eficiente para as misturas com glifosato segundo os estudos tem sido o Mn-EDTA, pois não reage no tanque de pulverização e mantém sua eficiência. Lembre-se sempre de adquirir produtos de empresas idôneas. E fazer testes de mistura antes de realizar a mistura no tanque para garantir a compatibilidade entre os produtos.

Texto: Marluce Corrêa Ribeiro

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