Construção de perfil de solo: estratégia para uma agricultura de alta performance

Você já deve ter ouvido por aí o termo: “construção de perfil do solo”. Mas você sabe o que isso significa na prática? Entende como a construção deste perfil do solo pode ser a base para altas produtividades e alta performance na agricultura? Neste artigo iremos falar um pouco sobre esse conceito e explicar sobre práticas que contribuem para essa construção.

Antes de mais nada, precisamos entender do que se trata o perfil de solo.

O perfil de solo nada mais é do que a sequência horizontal das camadas do solo (chamadas horizontes), originadas da ação simultânea dos processos químicos, físicos e biológicos que ocorrem no solo. Estes horizontes iniciam-se na camada superficial do solo e chegam até a camada rochosa.

O que é, de fato, a construção de perfil de solo?

Mas então como podemos construir um perfil? O termo construção de perfil de solo diz respeito à adoção de uma série de práticas de manejo que possam criar condições favoráveis para produção e crescimento radicular ao longo do perfil do solo, em profundidade, nas camadas subsuperficiais.

Ou seja, seria basicamente, construir química, física e biologicamente o solo em profundidade, contribuindo para que as raízes das culturas possam explorar o solo não somente nas camadas superficiais. Afinal, o investimento nesta construção do perfil é uma estratégia de manejo que visa a longevidade da lavoura e a conquista de altas produtividades.

O processo de construção do perfil de solo é um processo gradativo que visa, ano a ano, corrigir e melhorar os impedimentos químicos, físicos e biológicos do sistema de produção.  A seguir falaremos sobre cada um destes aspectos. Continue sua leitura.

Construção do aspecto químico

Nesta etapa, é preciso corrigir impedimentos químicos que podem limitar a produção, como: acidez, alumínio e baixos teores de nutrientes. Nesta fase ocorre, portanto, o que chamamos de “construção da fertilidade”.

Os grandes campeões do Cesb são exemplos práticos dos resultados deste investimento, pois se preocupam com a correção e adequação destes teores em profundidades muito além do comumente trabalhado pela maioria dos agricultores, que é de 0-20 cm (no máximo de 0-40 cm), limitando-se às camadas superficiais do solo.

Nesta etapa de construção química, por meio da análise do solo em profundidade, o produtor deve, gradativamente, fazer a elevação do pH para a faixa ideal; eliminar o alumínio tóxico do solo; aumentar a disponibilidade de nutrientes e corrigir os teores destes.

Construção do aspecto físico

Já no que diz respeito ao aspecto físico, um dos principais impedimentos é a compactação do solo nas camadas subsuperficiais. Portanto, a construção deste aspecto físico trata da adoção de práticas conservacionistas que visam promover a melhoria das propriedades físicas do solo, garantindo: maior aeração e menor compactação; maior infiltração de água; maior desenvolvimento radicular, entre tantos outros benefícios.

Construção do aspecto biológico

Juntamente com as práticas já citadas, ocorre um aporte de matéria orgânica neste solo. E isto está diretamente ligado à conservação e melhoria das condições biológicas do solo. Este incremento de matéria orgânica promove maior agregação das partículas do solo; favorece a penetração e desenvolvimento das raízes; aumenta a porosidade; aumenta a infiltração e a retenção da água; além de aumentar a atividade e diversidade biológica do solo.

Esta atividade biológica no solo desempenha diversas funções importantíssimas para a manutenção e longevidade do sistema produtivo. Além de atuar na decomposição da matéria orgânica e na ciclagem dos nutrientes, muitos microrganismos atuam em funções específicas como solubilizar fósforo, fixar nitrogênio, controlar nematoides e patógenos de solo, entre tantas outras funções específicas. Portanto, a construção de perfil de solo passa também pelo restabelecimento das funções do microbioma daquele solo.

Por que ele é a base para uma agricultura de alta performance?

O somatório de todas as práticas utilizadas para construção do perfil do solo vai, ano a ano, estabelecendo melhores condições de produção ao longo do perfil do solo, reestabelecendo o equilíbrio e garantindo maior longevidade produtiva. Todas estas condições tendem a possibilitar uma agricultura de alta performance, afinal, o produtor que constrói este perfil de solo corrige os fatores limitantes e promove condições favoráveis de produção para as plantas.

Imagine, por exemplo, uma área com um perfil que vem sendo construído já há alguns anos. E outra área onde o produtor não se preocupa com nada além da camada 0-20 cm, com um manejo químico básico. Imagine que estas duas áreas passam por um período de déficit hídrico durante o ciclo da soja. Com toda certeza, a área onde o perfil do solo está sendo construído terá plantas com o sistema radicular mais desenvolvido. Consequentemente, aproveitarão melhor o solo e a água disponível em camadas mais profundas. Esta soja, provavelmente, sofrerá menos com os dias sem chuva. Esse é o segredo. Dar condições melhores para suas plantas.

Desafios da construção do perfil de solo

Diante de tantas informações positivas sobre a construção do perfil do solo, você pode estar pensando: mas então por que esta prática ainda não acontece na maioria das lavouras? E listaremos a seguir alguns desafios que os produtores ainda encontram para a adoção deste processo de construção de perfil do solo:

Resultado gradativo – pode demorar vários anos para atingir o resultado esperado. E muitos produtores podem não ter a paciência de entender e respeitar o processo para colher os resultados;

Demanda de alto conhecimento técnico – na construção do perfil do solo é preciso entender o sistema como um todo e avaliar ponto a ponto para as tomadas de decisão. Já não é possível pensar em safras isoladas ou manejos isolados. E isso demanda uma equipe bem capacitada e alinhada. E muitas fazendas podem ser carentes deste conhecimento técnico e capacitação;

Altos investimentos financeiros – como são muitas as práticas que devem ser adotadas pra corrigir ponto a ponto do que comentamos, o investimento pode ser alto, a depender das demandas do talhão. E muitos produtores podem não ter a condição deste investimento a longo prazo.

Necessidade de equipamentos modernos e de alta qualidade – muitas práticas durante todo este processo podem demandar equipamentos que não estejam disponíveis na fazenda, dificultando a logística.

Benefícios da construção do perfil de solo

Mas apesar de todos estes desafios citados, os benefícios da construção de perfil de solo são inquestionáveis. E dentre eles, podemos destacar:

1 – Equilíbrio no desempenho da lavoura;

2 – Utilização da água de camadas subsuperficiais;

3 – Melhor aproveitamento dos nutrientes;

4 – Desenvolvimento radicular mais profundo;

5 – Contribui pra a atividade biológica do solo;

6 – Melhor estruturação e formação de agregados do solo;

7 – Ciclagem de nutrientes;

8 – Aumento da produtividade e sustentabilidade da produção

E é pensando em todos estes benefícios que os produtores precisam estudar estratégias para esta construção de perfil de solo dentro de suas fazendas. Somente quem for em busca de uma agricultura cada vez mais inteligente conquistará alta performance e excelentes resultados. Portanto, comece pelo básico bem feito e construa seus resultados!

Texto: Marluce Corrêa Ribeiro